Um ano de saudade

Tocam as badaladas entra o dia trinta, corro para o espelho, escorre a lágrima.

Esperei doze intensos meses, para conseguir finalmente entregar-te a minha homenagem, a homenagem que mereces que te entregue.

Naquele dia, para mim, o mundo parou! Surgiram tantas e tão seguidas dúvidas, que logo se transformaram numa espécie de onda revolta em mim.

Nunca poderei esquecer que liguei o rádio do carro, e só se ouvia da tua música; senti medo, estremeci e fiz uma chamada, queria saber se o duro pensamento que me passava pela mente era verdadeiro. Era, era mesmo! Já não estavas mais entre nós!

Uma, duas, três músicas, depois de tanto me contorcer lá se soltou um rio de lágrimas, caiu a ficha.

Essa maldita doença lá levou a melhor...

Foi te pedido tanta vez que saltasses, que desta vez o salto foi exagerado.

Aconteceu, estava destinado a ser vivido, no entanto, ninguém nos preparou para ou nos ensinou como. Mesmo que alguém o fizesse, como estar preparado para dizer adeus a alguém que era puro amor?

Não consegui limitar-me a dizer "Adeus!" e pronto, por isso o meu cérebro fez com que noites a fio sonhasse contigo, com que para tudo e para nada me consultasse sobre que farias tu no meu lugar. Eu não soube reagir, reagi como se pertencesses à família, como se fosses um tio ou um avô, um melhor amigo. Chorei muito (e sei que sempre que parar para te recordar, não me conseguirei conter), foi caso para dizer "Ai meu amor, o que eu já chorei por ti...".

Tenho combatido a solidão e dor junto de outros tantos que tal como eu te idolatravam. Sabemos e sentimos que a ausência ao fim de um ano ainda pesa toneladas, sabemos que é diferente, mas não precisamos de nos certificar de que será sempre bom, afinal, tu só te tornaste eterno. Lendas não morrem. És e serás para sempre do mundo!

Perdemos-te na terra mas lá longe, nesse mundo desconhecido para onde partiste uma legião de anjos te recebeu e aí continuas em palcos, com a tua voz acompanhada da esplêndida guitarra e dos magníficos acordes.

Sabendo que guardas um tempinho para te debruçares e olhares por nós, sei também que daí viste a quantidade enorme de homenagens que te preparamos e te tentámos oferecer como agradecimento. Cheia de esperança, creio que recebeste o que deste, que tiveste uma vida feliz e do mesmo modo partiste. Confesso, tenho pena que mais declarações não tenham sido feitas em sessenta e um anos, na tua presença física, ainda assim espero que tenhas gostado.

Agradecer agora, de uma forma escrita, atitudes, que recordo como tuas e infindáveis. O constante sorriso que carregavas e que alegrava qualquer um, as distribuições de amor, a garra e os ensinamentos sábios, a disponibilidade e acessibilidade, a humildade e o carisma, o facto de seres uma inspiração para gerações e gerações de    portugueses, ... Ah, queria muito mas é impossível enumerar tudo aquilo a que te sinto dever um agradecimento. Obrigada por seres o homem do leme, herói do sonho!

Não posso deixar de agradecer ainda aos maravilhosos pais que possuo, por te terem colocado a ti e à banda que dá vida a uma data de músicas que fazem parte da banda sonora da minha infância e adolescência na minha vida. Terminando os agradecimentos, e continuando a nomear os meus progenitores, e agora também os Xutos&Pontapés bem como o seu manager, agradecer a fantástica noite de 5 de Agosto de 2018 em que tive o prazer de assistir a um concerto indescritível e de ainda conhecer os músicos. Para essa noite ter sido perfeita só faltavas tu, no 100% foste o 1% que falhou.

Zé, é com agrado e felicidade que digo que sou tua fã!

Sempre que possas vem dar-me aquele abraço que só eu sinto! Até sempre rei!

Como me faltam as palavras para escrever tudo quanto queria, termino com as tuas:

"Como sabem tenho andado na luta da vida com alguns problemas de saúde... Tentei e tento dar sempre o melhor de mim. O vosso carinho, o vosso amor, a vossa energia, toda a força que me transmitem é-me tão forte e vital que só posso humildemente agradecer..." - Zé Pedro na "despedida" do público - Facebook - 4 de novembro do ano passado.